quinta-feira, 25 de setembro de 2014 | By: Igors Denali
Eu a vi tentando parecer legal, tentando não se constranger, evitando me olhar para não parecer muito interessada.

Naquele momento eu ainda não sabia, e hoje, alguns meses depois, ainda não sei o que realmente sinto com relação a ela. Há toda essa mistura de ideias sobre ela, sensações e sentimentos que talvez pudessem ser definidos em um. Sua boca entreaberta, seu olhar de fragilidade, sua insegurança, seu calor, suas meias palavras - que só eram meias pois nunca dei a chance ou a segurança necessária para que se tornassem completas -, seu ciúme.

Esse é o problema de não conseguir definir o que se sente com relação a alguém: as coisas não dão certo. O mundo foi feito para pessoas seguras e maduras o suficiente para se definirem e definirem seus sentimentos.

- Igor Denali
quarta-feira, 24 de setembro de 2014 | By: Igors Denali
Catarse

Eu sempre finjo que não sei o que sinto, ou que não sinto nada, por medo. Esse medo cresce ao me ver verbalizando, definindo, mensurando meu sentir. Sei que tenho trabalhado meus últimos anos sobre uma não segurança, evitando palavras, pessoas e acima de tudo, sentimentos. Claro que evitá-los, com toda a certeza do mundo, não os tornam menos presentes, pelo contrário, parecem me assombrar com mais frequência, esfregando na minha cara erros que só cometi por não abraçar meus medos. Por não me espremer por passagens improváveis. Por não me aventurar. Não me arriscar. E ai todos vem à tona numa noite ou outra quando permito que se instaure aquele estado de melancolia. Que eu só permito, pois é um sentir simplório de não ter feito, comparado a arrependimentos fundamentados - coisas que fiz, e quis esquecer -. Como quando você sabe que é hora de se despedir, mas se agarra ao momento procurando estendê-lo para sempre. Eu nunca estendi. Provavelmente porque não sinto nada. E a falta de sentir é, a principio, minha maior mentira.


- Igor Denali
quarta-feira, 6 de agosto de 2014 | By: Igors Denali

Uma vez eu morri. Na verdade não foi muito ruim, já que não vivi direito. 

Durante os anos fui me aprimorando por fora e apodrecendo por dentro. Plagiando, copiando, duplicando, repetindo. Erros. Meus erros. Fui sinônimo de um ou outro que tentou, mas não foi nada. E morreu. Morri. Permaneci foto contra a luz, contornos de alguém que ninguém jamais soube discernir.

Sombra.

Gostava de sair de madrugada e imaginar que as ruas estavam vazias porque as pessoas tinham medo de mim. Durante o dia, os olhres de estranhamento eram muito mais do que por minhas vestes maltrapilhas, ludibriado por tantas tentativas e fracassos, chegava acreditar ter conseguido ser alguém. Como eu me sentia interessante! E no entanto, continuava sendo o coadjuvante daquele filme que prometia estourar. E prometendo eu continuei. 

Não lhe julgo por não se lembrar de mim, ou do filme. A bilheteria não cobriu as expectativas. 
Eu não cumpri;
Nem tão pouco vivi.
Por isso não sofri com o fim.
Abracei-o, aquiesci. 

- Igor Denali.

terça-feira, 29 de julho de 2014 | By: Igors Denali

Às vezes eu acho que deveria ter ousado mais. Feito tatuagens; Ter usado mais roupas; Ter usado menos roupas. Às vezes acho que deveria ter andado mais vezes descalço, sentido a terra e a água na ponta dos dedos, entre eles. Deveria ter apreciado um pouco mais os sons que a natureza faz - e o som que o ser humano cria numa enlouquecedora, porem nostalgizante noite de balada -. O som que ecoa nas nossas cabeças no dia seguinte, virado. E o som dos pensamentos que se acumulam numa silenciosa noite em casa. Às vezes acho que eu deveria ter corrido mais, e quando era preciso, deveria ter andado devagar. Deveria ter feito mais, mas raramente fiz. E acima de tudo eu deveria continuar e terminar este texto, mas percebi que raramente faço as coisas que deveria, então, não se surpreenda se como, por fim, eu colocar reticências [...]

- Igor Denali
quinta-feira, 24 de julho de 2014 | By: Igors Denali
Preciso da segurança que só eu mesmo consigo me dar. 

Sofremos tanto, e do tanto que o mundo pode nos oferecer, apenas esperamos sofrer novamente. Veja-me: que desperdício. Cheio de transparências que não me permitem ser notado, coberto de uma auto-suficiência que luta diariamente contra uma urgência de sentir que é desesperadora. 

Há um tempo que não me permito. Ser alguém, estar com alguém. Ser alguém que quer estar com alguém sem ser comigo mesmo. Essa possibilidade me assusta um pouco. Em parte porque me esqueci como fazer, em parte porque no fundo sei como fazer, mas se finjo que não sei, não devo. Entende?

Se pudesse, calaria a todos e amaria por eles. E nem é por ter certeza, mas é que com clareza sei dizer o que sinto quando sinto, sei ser magoado sem precisar magoar de volta. Sei ser destruído, abandonado, ter meu coração partido, sem precisar revidar. Sei me cuidar, me proteger, me amar. E essa é a segurança que eu preciso, a que somente eu consigo me dar.

Sozinho ou não, anoiteci de coração quieto.



- Igor Denali
quarta-feira, 9 de julho de 2014 | By: Igors Denali
Meu coração é impuro, doente. Não é bom. Degrada-se a cada batimento. Busca cada vez mais a insanidade instável, querendo, ardentemente, espalhar sua dor mascarada em crueldade, tornando tudo negro.

Meu coração quer heroína, ópio e morfina. Quer qualquer coisa que desfaça o peso que lhe cobre por não dar a mínima para o que acontece. Quer permanecer imóvel frente às desgraças dos noticiários, sem se importar por sua falta de sensibilização, para ele, o número de vítimas são apenas números. Ele tem vontade de destruir o meio-ambiente, atirar em animais indefesos e não liga para a fome do mundo. 

Bombeia rum e se infla com toda a embriaguez que puder ter.

Meu coração anseia por sexo selvagem, sem nada além da troca de fluidos, apenas a volúpia do momento. Ele quer ser sujo, sem respeito. Só. Não quer descendentes, não busca transmitir sua insanidade, o descaso e falta de sentir adiante. Ele por si se basta. Quer ser negro e com toda liberdade para sê-lo. 

Meu coração não quer bater e só o faz pela certeza de que a cada batimento está mais próximo do fim. 

Ele nem ao menos quer ser um coração, quer ser uma bomba atômica e destruír, sem receios, essa carcaça que lhe carrega e lhe força a prosseguir.

- Igor Denali

segunda-feira, 30 de junho de 2014 | By: Igors Denali

Eu não sou a escolha certa para ninguém, e ainda assim, você me escolheu. Não importa quantas vezes eu tenha lhe dito isso, de inúmeras formas diferentes desde a primeira. Fiz dos meus defeitos amantes inseparáveis e de minha própria causa minha maior preocupação, e no entanto, você não se distanciou. Da minha forma torta, você escupiu, lentamente e com jeitinho, uma caricatura do que acreditou ser aceitável para ter por perto, e isso fez toda a diferença. Eu não mudei por você, e você não me impôs que fizesse. Pela visão de todos, deixou-me errado, quebrado, ainda torto, imperfeito, mas perfeitamente bem por estar ao seu lado sendo quem sou. Completo.

- Igor Denali
quarta-feira, 25 de junho de 2014 | By: Igors Denali

Até para mim que gosta de coisas breves e intensas, foi pouco. Pouco de você, pouco de nós no escuro, sob o edredom, hora fitando um ao outro sem nos vermos, hora sentindo nossa respiração. Hora. Horas, às vezes parece que foram apenas horas. 


Lembro que tomei cuidado na primeira vez que entrei na sua casa¹, não podia deixar uma má impressão. Lutei para que não visse a sujeira que deixei atrás de mim, as pegadas de lama. Não deixei que sentisse a insegurança na minha voz, e por isso segurei tão firme a sua mão, beijei tão forte os seus lábios. Por isso, e porque você também, naquele ponto, já havia entrado na minha, sem me distrair para esconder suas pegadas. Me tornou seu, sem sujar meu lar. 

Sonhei conosco essa noite. E aí, querida, que você não quis mais sentir o calor do meu hálito no seu pescoço, o aperto das minhas mãos na sua cintura ou o toque dos nossos corpos se completando. 

Queria que fosse uma mentira, queria que não tivesse sido uma. 

Eu poderia ter dito que não mancharia seu piso branco de lama, tecer uma ou duas histórias sobre como minhas mãos lhe entregariam rosas, não dores. Mas mentiria. Tive mais de você, do que você de mim. Foi pouco. 

Você havia se apaixonado por minhas mentiras, e quando me tornei verdade, já não éramos nada. 


¹ Coração.


- Igor Denali
domingo, 8 de junho de 2014 | By: Igors Denali
quinta-feira, 5 de junho de 2014 | By: Igors Denali
Sua mão álgida tocando na face,
que calma e decência
se fazem sentir,
e lá dentro aos berros, querendo fugir.
E na vontade de ser novo
descontruindo-se.
Se desmanchando,
manchando o outro.
Nutrindo o nocivo
medo das sombras,
igual a uma criança
agonizando.
Em desespero o ciclo volta
a se repetir
já que o que se vê, reflexo nítido
não é, longe de tudo aquilo
que evidencia existir.

- Igor Denali
sábado, 26 de abril de 2014 | By: Igors Denali
Você não pode dizer que não lhe apontei a paisagem. Esses olhos, esse pulso, aquelas árvores. As curvas das suas costas. Jamais pode dizer que eu não sabia o que você queria ouvir. Eu sabia. E exatamente por isso que nunca disse. Não que eu quisesse lhe irritar, ou impedir que se cativasse por mim. Eu queria. Queria também te provocar, fazer dos seus lábios parte dos meus. Mas eu, tão altivo quanto o céu que não se acaba, e num entanto tão acovardado ao ponto de me esconder nos escombros, não lhe insultaria ao tentar lhe enganar com mentiras implantadas, minunciosamente, em minha cabeça por eu mesmo.


- Igor Denali
terça-feira, 22 de abril de 2014 | By: Igors Denali
Me afoguei em você um dia desses. Imaginei a água morna serpenteando nas curvas da sua face, virando uma queda d’água no seu queixo, e eu hora me afogando, hora flutuando. Me afogando. Fluindo nas poças acumuladas em suas covinhas, nessas que quis me enterrar até sumir dentro de você. Procurei por ar em todas as coisas que nunca tivemos, nos míseros momentos em que, sãos, deixamos o tempo abraçar-nos, e os acasos desfazerem, com desamor, o nosso amor. 

Continuei ali, me afogando. Por cada beijo na ponta do seu nariz que reservei, e reservados permanecerão. Por cada enrubescer das suas bochechas ao me ouvir suspirar seu nome de lado no travesseiro. Por cada noite daquele verão agridoce, adocicado.

Certo dia me afoguei em você. Com você, por você. Contei, ainda que por pouco tempo, cada gota, cada pingo de chuva que molhou a nossa terra, mas não floresceu nenhuma flor, a nossa flor.

- Igor Denali