domingo, 26 de junho de 2011 | By: Igors Denali

Tão logo comecei realmente a gostar, larguei. Meus amigos, nunca entenderam meus motivos. Ninguém nunca entendeu. Chamam-me de jovem com potencial, mas desprovido de força de vontade, ambição. Vulgo: covarde. Nas palavras de uma certa melhor amiga, eu vivia para "desperdiçar minha vida" ou “não possuía mais jeito”. Quando ouvi, achei graça. Andava numa infelicidade de fazer dó, transformado em azêmola pelo fardo das lembranças e da indignação, açoitado diariamente por essas, que puxavam-me as rédeas e controlavam-me o trote. Alguém nos ludibriou dizendo que felicidade jaz dentro de nós mesmos – e que, por sua vez, não precisa de ninguém nem nada para desabrochar. Nós acreditamos. Descobrimo-nos pedreiros: crescemos e envelhecemos construindo casas nas quais não entraremos.

O plano de me proteger para viver acabou por tomar o lugar da própria vida.

Fica explicado, portanto, todo o alvoroço que parentes e amigos fizeram quando anunciei minha partida. "Por quê?", eles perguntavam. De novo, eu achava graça. Queria explicar que rasguei o vale “felicidade” não só uma, tampouco duas vezes apenas. Queria dizer a meus pais que toda a inquietação que me assolava, toda aquela insatisfação com minha vida possuía nome e endereço. Todavia, como eles não compreenderiam, disse apenas que precisava mudar de ares. Assim, parti para outra roça qualquer, buscando não mais que a frugalidade há muito usurpada de meus dias. Meu caro, deixe me lhe dizer: não foi de todo ruim. Ah, não foi! Você ficaria surpreso com o que um homem em completa solidão pode aprender sobre si. A princípio, não nego, doeu deixar para trás meus familiares e amigos; mas foi ferida efêmera que sarou quando passei a viver meus próprios roteiros e escrever eu mesmo as histórias que leria.

Não abandonava a comodidade do meu novo lar por mais que poucas horas. Errava pelos cantos, perdido e sem querer ser encontrado. Em qualquer um desses dias nem tão frios nem tão quentes de Maio, esbarrei em alguém. De boa aparência, se convir dizer. Meio como eu. A essa altura, suponho que nem eu mesmo fosse “meio como eu”, mas enfim. Conheci um mundo novo, ao qual me adaptei com estranha rapidez. Beijamo-nos. Disse que sentiu uma conexão e que deveríamos vagar por aí juntos. Eu refutei prontamente, falei que era beijo bobo, de algo que não possuía futuro, coisa de uma tarde, ou uma noite. Não queria companhia, tampouco responsabilidade. Não queria ter medo.

Depois disso, decidi que se quisesse, o medo seria opcional. Repeti para mim exatamente isso durante várias vezes, como se pudesse mudar minha realidade. Mas ainda não estava preparado. Chamam-me de jovem com potencial, mas desprovido de força de vontade, ambição...

Estive em rodoviárias algumas vezes na minha vida, e essas, são algumas vezes mais do que eu gostaria. Numa dessas, o meu resto sobrou. Manterei-lhes informados caso o recupere e um final feliz seja-me atribuído, enquanto isso, podem se deitar e esperar comigo. Absorvendo o até então ponto não-final da minha história.
sexta-feira, 17 de junho de 2011 | By: Igors Denali
Se enroupar-me a pele pálida, quase sem vida, com cobertores, ainda sinto frio. Sinto como sinto a alma presa n'um vidro polido e metalizado que mal reflete a invasão, pela janela entreaberta, da meia luz dessa noite quase morta. Sinto esse frio tão forte, como quem está sentindo na pele e no fundo da alma a sensação de quando se tem febre alta. Como a vontade de sentar no chão, abraçar as pernas e esconder o rosto entre os joelhos. Ficar quietinho assim até desanuviar esta tempestade, que só sobrasse o cheiro de terra molhada. A verdade é que antes de dormir olhei-me uma vez no espelho, vi apenas um garoto. Quase desconhecido por mim, a não ser por seu sorriso inconfundível que se deixava, cautelosamente, brotar entre os lábios. Singelo, doce, sem ambição alguma. Tímido demais para mostrar-se homem nos traços que o desenham. Gostava de estar com os olhos na lua, de ter nos mesmos o brilho das estrelas que enfeitam o céu negro, descorado. Em seu quarto, mesmo nos dias calmos: suicídios, vinganças sangrentas contra quem já a feriu na alma, rebeliões, casamentos; jurou por um Deus que se vingaria de modo fúnebre exemplar. E era como se bastasse uma brisa leve, morna, fresca e sem pressa para esboroar suas idéias sanguinárias. Sôfrego era, mas corajoso para ser, não. Para o garoto no espelho eu digo “prazer em conhecê-lo” ou “sempre fomos assim”? Então, decidi olhar-me outra vez. Na segunda vez em que olhei o meu reflexo, vi você. Que culpa eu tenho? Depois de você, às vezes, parece que não restou mais ninguém. Nem mesmo a mim. Foi uma pergunta que fez nossa história começar, mas que pergunta foi esta que fez tudo agora acabar? Outra viagem de negócios, outro motivo para ficar longe. E indo longe, longe foi.

Igor's Denali
quinta-feira, 9 de junho de 2011 | By: Igors Denali
Penso em ti por absoluta incapacidade, ainda, de não pensar. E assumir me é humilhante, já que por mais que anseie por tua presença, não se importe. Talvez tão somente por isso, óbvio, ainda a escreva. Já que me inspiras no amor, tanto quanto no ódio ou indiferença. Tento abraçar-te de longe, na esperança de reter-te, pois embora no início tudo parecesse ser tão provisório, hoje em dia, chego a lamentar diariamente pela perda por mais subtil que essa possa ser a qualquer outro. É desesperador privar-me de enlaçar meus olhos novamente aos teus, onde um dia banharam-se em tanto apreço, amor. Debruço-me sobre tuas fotos, e afago tua face todos os dias: sabes bem que fomos muito parecidos, de modos, manias e interesses inteiramente diferentes. Amei-te miseravelmente, embora vez ou outra, inutilmente tentasse odiá-la como me odiou. Tinha muito em mente para escrever, dizer, mas não vejo necessidade mais. Estamos em paz, certo?! E além do mais, acredito já ter escrito o suficiente. Preciso retornar para a casa agora, seguir em frente, sabe? E admito, está bem escuro e assustador aqui no cemitério, apesar de achar que não possa ver ai de baixo. Voltar-me-ei agora a outros assuntos, que talvez encaixe em outra carta, onde infelizmente o destinatário não será você. Alguns meses se passaram desde que partiu Marilyn, mas gostaria que essas palavras lhe alcançassem, e, nessa tentativa que talvez seja vã, quem sabe, deixo que a chuva decomponha esse papel surrado sobre seu túmulo, para que independente de onde esteja não se esquecer jamais, de que nunca esteve sozinha, antes. Adeus.

Igor's Denali
sexta-feira, 3 de junho de 2011 | By: Igors Denali
Estes dias que tenho passado contigo, sentindo-lhe, tenho permito à minha alma ficar em tão leve e constante harmonia como há muito não possuía coragem de fazê-lo. Medo. Contigo esvai-se grande parte da desconfiança que tenho acumulado das pessoas ao meu redor, não és apenas mais uma, como espero também não ser pra ti. Não vou esconder o apreço que tens ganhado de mim com o tempo, mesmo que esse "tempo", ainda seja pouco. Você roubou-me de mim mesmo, tornando-me teu. Sinto-a aqui ao meu lado, sobre mim, em mim ao fechar os olhos. Sua voz é combustível aos meus devaneios, tua face, o único semblante que vislumbro ao dormir. Das lembranças que tenho, as únicas que alcançam-me em meus sonhos são as tuas, pois tu és a única que tanto anseio em realmente possuir.

Igor's Denali

You can't feel me, no; Like I feel you. I can't steal you, no; like you stole me.

B.