São 00:39 e não consigo entender o porquê de estar acordado, aqui, sobre esta folha de papel que desde cedo me brinda com sua brancura. Estive pensando a noite toda, em coisas das quais não consigo entender, questões que não consigo concluir. O centro de todo o reboliço em minha mente é ela, aquela garota de nome Lilian, que tanto me cativas. A carta que me coloquei a escrever não poderia ter, senão ela, algum outro destinatário, se é que me entendes, ainda me é de um charme à moda antiga, atrair a atenção de uma moça por meio de uma carta. Foi quando decidi escrever para não me esquecer, e então me esqueci o que iria escrever. Por isso ainda estou aqui.
Engraçado é o que se passa em minha mente agora, ou o que não passa, minto. Falar de Lilian é fácil, difícil escrever para ela. Aprecio pessoas que conseguem atrair-me por meio de palavras não ditas. Sabe, nunca nos falamos. Motivo pelo qual, talvez, ainda receio em escrever algo. Qual poderia ser a distância entre a realidade e o que minha cabeça apaixonada imagina, da verdadeira Lilian?! Rechacei o pensamento incomodo e voltei-me a pensar sobre o que escrever. Eu a amava, disso estava convicto. Amei sem receios, à primeira vista, acredite se quiser. Aquele sentimento que me é perfeito só visto em telas de cinema. Então me lembrei, que em diversas vezes, por uma brincadeira do autor, tal sentimento não é correspondido. Aqueles lábios vermelhos talvez nem saibam de minha existência, ou o quanto me fazem ansiá-los apenas por pertencerem a ela. Ou o dourado daqueles olhos, a brancura daquela pele. Branco, como esta página ainda está em branco com tanto a se escrever?! Rechacei novamente o pensamento e voltei-me ao papel.
Os primeiros raios de sol tomaram meu quarto, lacrando meu desejo naquela noite. Lilian me pertencia, como eu a ela. Não havia escrito nada, não possuía palavras para descrever realmente, - por mais que clichê isso pareça - o que sentia por ela. Resolvi deixar quieto, aproximar-me aos poucos se houvesse alguma oportunidade. Ou de uma vez, quem sabe aquela folha em branco estivesse me dizendo que já era a hora de abandonar os velhos hábitos. E a vontade da carta, à moda antiga, apenas na vontade permaneceu.
A campainha tocou.
Sorri para Margaret, nossa empregada, ao entrar sorrateira em meu quarto, talvez para sua revista diária, aquela que sempre faz enquanto durmo para ter a certeza de que não pulei pela janela, não sei. Decidi não impor importância, pois a esta altura o sono transmitia à minha cama, um charme se não igual, tão particular quanto o de Lilian. Deitei-me, e então ouvi a voz de Margaret como um sussurro, já não sabia se dormia, mas daquele sonho, não gostaria de acordar. Sorri.
“- Querido, você recebeu uma carta... Lilian, é alguma amiga nova?”
─ Igor's Denali