terça-feira, 15 de setembro de 2015 | By: Igors Denali
Balada de dois. 
Igor Denali 

"Eu adoraria, mansamente, te fazer entender. 

Jogados na noite mais escura da vida, seguir as linhas do teu corpo com meus dedos, percorrendo o momento de carne em êxtase tortuoso. 

Corpos quentes, e almas frias. 

Eu adoraria vestir teu corpo com o meu,
e ter a alma assaltada por teu silêncio que hesita.

Ou excita. 

E talhar no teu queixo mais um beijo.
E buscar a simetria nos teus olhos revirados. 

Eu adoraria tecer na tua pele nosso caos,
e esquentar tua alma com a minha. 

E costurar o teu corpo com minha língua fria, em rios 
que se alongam e esfriam.
O momento que se alonga e esfria. 

Eu adoraria tragar o teu desejo palpável, 
sentir o toque do teu suspiro.

E não esperar que acabe, mesmo que o mais belo em tudo, seja o anseio na ausência.

E continuarei adorando tua ausência,
tua distância, 
e tua presença, 
mesmo muito depois de partir."
quinta-feira, 25 de setembro de 2014 | By: Igors Denali
Eu a vi tentando parecer legal, tentando não se constranger, evitando me olhar para não parecer muito interessada.

Naquele momento eu ainda não sabia, e hoje, alguns meses depois, ainda não sei o que realmente sinto com relação a ela. Há toda essa mistura de ideias sobre ela, sensações e sentimentos que talvez pudessem ser definidos em um. Sua boca entreaberta, seu olhar de fragilidade, sua insegurança, seu calor, suas meias palavras - que só eram meias pois nunca dei a chance ou a segurança necessária para que se tornassem completas -, seu ciúme.

Esse é o problema de não conseguir definir o que se sente com relação a alguém: as coisas não dão certo. O mundo foi feito para pessoas seguras e maduras o suficiente para se definirem e definirem seus sentimentos.

- Igor Denali
quarta-feira, 24 de setembro de 2014 | By: Igors Denali
Catarse

Eu sempre finjo que não sei o que sinto, ou que não sinto nada, por medo. Esse medo cresce ao me ver verbalizando, definindo, mensurando meu sentir. Sei que tenho trabalhado meus últimos anos sobre uma não segurança, evitando palavras, pessoas e acima de tudo, sentimentos. Claro que evitá-los, com toda a certeza do mundo, não os tornam menos presentes, pelo contrário, parecem me assombrar com mais frequência, esfregando na minha cara erros que só cometi por não abraçar meus medos. Por não me espremer por passagens improváveis. Por não me aventurar. Não me arriscar. E ai todos vem à tona numa noite ou outra quando permito que se instaure aquele estado de melancolia. Que eu só permito, pois é um sentir simplório de não ter feito, comparado a arrependimentos fundamentados - coisas que fiz, e quis esquecer -. Como quando você sabe que é hora de se despedir, mas se agarra ao momento procurando estendê-lo para sempre. Eu nunca estendi. Provavelmente porque não sinto nada. E a falta de sentir é, a principio, minha maior mentira.


- Igor Denali
quarta-feira, 6 de agosto de 2014 | By: Igors Denali

Uma vez eu morri. Na verdade não foi muito ruim, já que não vivi direito. 

Durante os anos fui me aprimorando por fora e apodrecendo por dentro. Plagiando, copiando, duplicando, repetindo. Erros. Meus erros. Fui sinônimo de um ou outro que tentou, mas não foi nada. E morreu. Morri. Permaneci foto contra a luz, contornos de alguém que ninguém jamais soube discernir.

Sombra.

Gostava de sair de madrugada e imaginar que as ruas estavam vazias porque as pessoas tinham medo de mim. Durante o dia, os olhres de estranhamento eram muito mais do que por minhas vestes maltrapilhas, ludibriado por tantas tentativas e fracassos, chegava acreditar ter conseguido ser alguém. Como eu me sentia interessante! E no entanto, continuava sendo o coadjuvante daquele filme que prometia estourar. E prometendo eu continuei. 

Não lhe julgo por não se lembrar de mim, ou do filme. A bilheteria não cobriu as expectativas. 
Eu não cumpri;
Nem tão pouco vivi.
Por isso não sofri com o fim.
Abracei-o, aquiesci. 

- Igor Denali.

terça-feira, 29 de julho de 2014 | By: Igors Denali

Às vezes eu acho que deveria ter ousado mais. Feito tatuagens; Ter usado mais roupas; Ter usado menos roupas. Às vezes acho que deveria ter andado mais vezes descalço, sentido a terra e a água na ponta dos dedos, entre eles. Deveria ter apreciado um pouco mais os sons que a natureza faz - e o som que o ser humano cria numa enlouquecedora, porem nostalgizante noite de balada -. O som que ecoa nas nossas cabeças no dia seguinte, virado. E o som dos pensamentos que se acumulam numa silenciosa noite em casa. Às vezes acho que eu deveria ter corrido mais, e quando era preciso, deveria ter andado devagar. Deveria ter feito mais, mas raramente fiz. E acima de tudo eu deveria continuar e terminar este texto, mas percebi que raramente faço as coisas que deveria, então, não se surpreenda se como, por fim, eu colocar reticências [...]

- Igor Denali
quinta-feira, 24 de julho de 2014 | By: Igors Denali
Preciso da segurança que só eu mesmo consigo me dar. 

Sofremos tanto, e do tanto que o mundo pode nos oferecer, apenas esperamos sofrer novamente. Veja-me: que desperdício. Cheio de transparências que não me permitem ser notado, coberto de uma auto-suficiência que luta diariamente contra uma urgência de sentir que é desesperadora. 

Há um tempo que não me permito. Ser alguém, estar com alguém. Ser alguém que quer estar com alguém sem ser comigo mesmo. Essa possibilidade me assusta um pouco. Em parte porque me esqueci como fazer, em parte porque no fundo sei como fazer, mas se finjo que não sei, não devo. Entende?

Se pudesse, calaria a todos e amaria por eles. E nem é por ter certeza, mas é que com clareza sei dizer o que sinto quando sinto, sei ser magoado sem precisar magoar de volta. Sei ser destruído, abandonado, ter meu coração partido, sem precisar revidar. Sei me cuidar, me proteger, me amar. E essa é a segurança que eu preciso, a que somente eu consigo me dar.

Sozinho ou não, anoiteci de coração quieto.



- Igor Denali
quarta-feira, 9 de julho de 2014 | By: Igors Denali
Meu coração é impuro, doente. Não é bom. Degrada-se a cada batimento. Busca cada vez mais a insanidade instável, querendo, ardentemente, espalhar sua dor mascarada em crueldade, tornando tudo negro.

Meu coração quer heroína, ópio e morfina. Quer qualquer coisa que desfaça o peso que lhe cobre por não dar a mínima para o que acontece. Quer permanecer imóvel frente às desgraças dos noticiários, sem se importar por sua falta de sensibilização, para ele, o número de vítimas são apenas números. Ele tem vontade de destruir o meio-ambiente, atirar em animais indefesos e não liga para a fome do mundo. 

Bombeia rum e se infla com toda a embriaguez que puder ter.

Meu coração anseia por sexo selvagem, sem nada além da troca de fluidos, apenas a volúpia do momento. Ele quer ser sujo, sem respeito. Só. Não quer descendentes, não busca transmitir sua insanidade, o descaso e falta de sentir adiante. Ele por si se basta. Quer ser negro e com toda liberdade para sê-lo. 

Meu coração não quer bater e só o faz pela certeza de que a cada batimento está mais próximo do fim. 

Ele nem ao menos quer ser um coração, quer ser uma bomba atômica e destruír, sem receios, essa carcaça que lhe carrega e lhe força a prosseguir.

- Igor Denali