Injetou na veia sete anos de reabilitação jogados fora. E em pouco tempo era fantasma flutuando com os pés na terra. Sorriu de piada alguma e a loucura bateu à porta, mas expulsou-a, a casa já ocupara-se demais com seus delírios vagos e corriqueiros. Sentiu-se jovem novamente, por mais que ainda fosse, não aparentava. Perdia-se na imensidão de seu próprio vazio, que na verdade era raso e profundo, perfurado de tanto ter sido cavado à procura de ouro. Apesar de ouro algum ter sido encontrado, de futuro algum ter sido garantido. É que todas as pessoas anseiam por saúde, um bom cargo na empresa, e tem aqueles mais determinados, que desejam ser médicos, ou qualquer outra merda de emprego bem remunerado. Casar, ter filhos, viver por eles, e só dormir quando estiverem num belo caixão adornado por todos os tipos de flores raras que seu rico dinheirinho pôde pagar.
Não que se importasse com isso, não dava a mínima. - Dane-se essa maldita idéia de abstinência ante ao sucesso. – dizia para si mesmo, antes do tratamento, quando a cada nova agulha que enfiava em sua pele, um mundo novo se mostrava, desse que vale a pena viver nele. - Riscou e acendeu um cigarro, dando um trago após o outro. Sorriu, enquanto se deixava levar. Jogou-se na cama, acertando-a por pouco e prosseguiu em sua fantasia, sabendo que havia deixado o destino em outra cama, junto com a dignidade, o amor, a possibilidade de uma vida feliz e um trabalho bem remunerado... Mas naquele momento nada importava. Riu dos idiotas sentados em suas mesas nos escritórios, riu dos médicos empapados de sangue em suas salas de cirurgia. Riu-se. Condimentou sua vida até o último instante em que a droga fez efeito. Era Rei naquele instante, era Super - Homem, Batman, Lanterna - Verde e todos os tipos de heróis que gostaria de ser, era celebridade, era estrela do rock e ainda assim, a partir do momento em que desistiu de sua vida, não foi ninguém.
- Igor Denali
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