Friday - August 12, 2011
Tenho medo. Medo de que seja água com açúcar, mamão com mel. Doce, sabe? Tenho medo. De que seja comum, clichê e passe despercebido como uma marca d’água só vista a contraluz. Não quero que seja doce. Passe-me o sal, dê-me tempero, pique uma folha de rúcula para pôr na minha omelete. Mas me destoe dessa melodia entorpecente e dissimulada que é o senso comum. O comum ser. O aglomerado de gente pré-fabricada, pré-idealizada e pré-vivida que roda em volta ao seu desejo de placidez. Não quero a calmaria de um lago à vista de montanhas e sim a água salgada do mar ricocheteando areia na pele. Tenho medo, muito medo, de que seja doce. Que a vida passe na ponta de um gramofone deslizando em um vinil de Roberto Carlos. De que seja a luz que passa pela brecha da janela, pela fechadura da porta, e não a explosão de cores de um vitral. Quero o amargo do café preenchendo a boca e os teus dedos trilhando as minhas coxas. Tire-me do que é igual e do tanto quanto; faça-me um ‘mas’. Se não um mas, um porém. Faça-me contradição. Acomode o pote de açúcar na dispensa e me passe o sal.
- Autor Desconhecido.
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