Perdi-me no passado, foi. Ah! Meus amores, elas me amavam, eu as amava. O abraço. O sorriso que alcançava orelha a orelha em minha face, a moda era ser feliz. Os óculos eram coloridões, os aviões eram de brinquedo, a água era pura, as palavras eram confiáveis. Meus dentes iam caindo pouco a pouco, levando lembranças, deixando sorrisos banguelas, mas sempre sorrisos. Meus trocados se acabavam sem menor sentido. O céu girava e do ângulo exato podia-se ver meus ídolos todos lá, muitos que nem ídolos realmente eram. O sol doava um brilho sem dor, e na noite os músculos da face descansavam. Aquiescia-me às regras, sempre na espera de colocar-me novamente junto aos corpos agitados. Meu pai me fazia dormir no melhor cafuné de sobrancelha, confortando minhas pernas junto a ti. Na hora do sério, todos repetiam “Tudo vai ficar bem, apenas durma”, eu nem ao menos podia imaginar o quão importantes eram aquelas palavras, mas eu as venerava e de algum modo sabia que eram verdadeiras. Já fui e voltei muitas vezes, e isso já são muitas vezes mais do que gostaria. Já não vejo graça em observar as estrelas, nem em conversar sobre assuntos idiotas, apenas para ter o que falar. Aconteceu que, nessas tantas idas e vindas desnecessárias, corri o risco de perder minha essência, aquela. E de fato perdi. Perdi-me do quem me era importante. Dos meus sorrisos diários, dos intervalos entre essas inconstantes aulas da vida. Ah! Quanta saudade das brigas de dedões, dos jogos de dama, do futebol com latinha de refrigerante. Saudades de mim. Naquele tempo a esperança era desconhecida, a vida era feita do viver, sem nada mais para esperar. Eu era alegre ali, era inteiro. Não me comparava a nada, nem poderia: amava a mim mesmo com toda fé, e com isso eu podia amar a todos que me cercavam, sem receios. Mas isso já faz muito tempo.
─ Igor's Denali
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