terça-feira, 29 de julho de 2014 | By: Igors Denali

Às vezes eu acho que deveria ter ousado mais. Feito tatuagens; Ter usado mais roupas; Ter usado menos roupas. Às vezes acho que deveria ter andado mais vezes descalço, sentido a terra e a água na ponta dos dedos, entre eles. Deveria ter apreciado um pouco mais os sons que a natureza faz - e o som que o ser humano cria numa enlouquecedora, porem nostalgizante noite de balada -. O som que ecoa nas nossas cabeças no dia seguinte, virado. E o som dos pensamentos que se acumulam numa silenciosa noite em casa. Às vezes acho que eu deveria ter corrido mais, e quando era preciso, deveria ter andado devagar. Deveria ter feito mais, mas raramente fiz. E acima de tudo eu deveria continuar e terminar este texto, mas percebi que raramente faço as coisas que deveria, então, não se surpreenda se como, por fim, eu colocar reticências [...]

- Igor Denali
quinta-feira, 24 de julho de 2014 | By: Igors Denali
Preciso da segurança que só eu mesmo consigo me dar. 

Sofremos tanto, e do tanto que o mundo pode nos oferecer, apenas esperamos sofrer novamente. Veja-me: que desperdício. Cheio de transparências que não me permitem ser notado, coberto de uma auto-suficiência que luta diariamente contra uma urgência de sentir que é desesperadora. 

Há um tempo que não me permito. Ser alguém, estar com alguém. Ser alguém que quer estar com alguém sem ser comigo mesmo. Essa possibilidade me assusta um pouco. Em parte porque me esqueci como fazer, em parte porque no fundo sei como fazer, mas se finjo que não sei, não devo. Entende?

Se pudesse, calaria a todos e amaria por eles. E nem é por ter certeza, mas é que com clareza sei dizer o que sinto quando sinto, sei ser magoado sem precisar magoar de volta. Sei ser destruído, abandonado, ter meu coração partido, sem precisar revidar. Sei me cuidar, me proteger, me amar. E essa é a segurança que eu preciso, a que somente eu consigo me dar.

Sozinho ou não, anoiteci de coração quieto.



- Igor Denali
quarta-feira, 9 de julho de 2014 | By: Igors Denali
Meu coração é impuro, doente. Não é bom. Degrada-se a cada batimento. Busca cada vez mais a insanidade instável, querendo, ardentemente, espalhar sua dor mascarada em crueldade, tornando tudo negro.

Meu coração quer heroína, ópio e morfina. Quer qualquer coisa que desfaça o peso que lhe cobre por não dar a mínima para o que acontece. Quer permanecer imóvel frente às desgraças dos noticiários, sem se importar por sua falta de sensibilização, para ele, o número de vítimas são apenas números. Ele tem vontade de destruir o meio-ambiente, atirar em animais indefesos e não liga para a fome do mundo. 

Bombeia rum e se infla com toda a embriaguez que puder ter.

Meu coração anseia por sexo selvagem, sem nada além da troca de fluidos, apenas a volúpia do momento. Ele quer ser sujo, sem respeito. Só. Não quer descendentes, não busca transmitir sua insanidade, o descaso e falta de sentir adiante. Ele por si se basta. Quer ser negro e com toda liberdade para sê-lo. 

Meu coração não quer bater e só o faz pela certeza de que a cada batimento está mais próximo do fim. 

Ele nem ao menos quer ser um coração, quer ser uma bomba atômica e destruír, sem receios, essa carcaça que lhe carrega e lhe força a prosseguir.

- Igor Denali